sábado, 21 de maio de 2011

Tema 3 - a) Perspectiva vygotskiana e teoria da actividade

Para Vygotski um bebé nasce dotado de funções psicológicas elementares que posteriormente, na interacção com o meio, na aprendizagem social, se transformam em funções mentais superiores (consciência, planeamento, capacidade de deliberação…), e frisa que estas transformações ocorrem intermediadas pelo meio mas nunca directamente deste. (Lopes, 1996)
A teoria sócio-interaccionista de Vygotsky defende o desenvolvimento da inteligência enquanto produto da natureza social do homem e a construção de novos conhecimentos através das relações sociais, isto é, para Vygotsky “as características humanas não são inatas e nem resultado de pressões do meio externo, mas são decorrentes da interacção dialéctica do homem e seu meio sócio-cultural”. (Pinheiro, 2007)
Wertsch (1993), estudioso de Vygotsky, considera que a perspectiva deste assenta em três temas:
“a) o uso de um método genético ou de desenvolvimento;
b) a afirmação de que as mais elevadas funções mentais do individuo emergem de processos sociais;
c) a afirmação de que os processos sociais e psicológicos humanos se formam através de ferramentas, ou artefactos culturais, que medeiam a interacção entre indivíduos e entre estes e os seus envolvimentos físicos.” (Nogueira Fino, 2001)
A mediação, amplamente discutida por Vygotsky, é referida por Cole e Wertsch (1996), citados em Nogueira Fino (2001), como o “facto central da psicologia de Vygotsky”, na medida em que a utilização de artefactos, social e culturalmente construídos, “tem efeitos sobre a mente do utilizador e sobre o contexto envolvente”.
Por oposição ao dualismo wundtiano (que propõe estudar o individuo separadamente do seu contexto social) Vygotsky defendia que “o individual e o social fossem concebidos como elementos mutuamente constitutivos de um único sistema interactivo.” E que, como afirma Cole (1985), “o desenvolvimento cognitivo deveria ser entendido como um processo de aquisição cultural” (Nogueira Fino, 2001)
A teoria histórico-cultural da actividade, corrente de pensamento decorrente do trabalho de Vygotsky, tem como principais postulados os que se seguem:
a) A actividade humana é medida pelo uso de ferramentas e signos. A ferramenta, ou instrumento, pode ser caracterizada por “um meio exterior e material, auxiliando o homem na resolução de tarefas”. O signo, segundo Vygotsky, “pode ser designado por todo o estímulo condicionado, produzido artificialmente pelo homem, constituindo um meio para o domínio do seu comportamento” (Girotto & Lima, 2009)
Citando Nogueira Fino (2001), a “função da ferramenta é servir de condutor da influência humana no objecto da actividade, sendo extremamente orientada e devendo levar a mudanças nesse objecto” e o signo, considerando-se que “não provoca nenhuma alteração no objecto da operação psicológica”, “é um meio de actividade interna, empenhada no domínio do próprio indivíduo.”
b) A actividade socialmente organizada é crucial para a construção da consciência. Como refere Mehan (1981), citado em Nogueira Fino (2001), “as estruturas cognitivas e sociais são compostas e residem na interacção entre pessoas”.
c) Os processos psicológicos mais elevados ocorrem em dois planos: o interpsicológico e o intrapsicológico.
d) A aquisição de conceitos varia na origem e na forma, isto é, pode ser de natureza científica ou produto da convivência quotidiana.
Girotto, C. & Lima, E. (2009) Acções Interdisciplinares em Salas de EJA: os projectos de trabalho à luz do enfoque histórico-cultural. EDUCAÇÃO: Teoria e Prática, v. 19, n.33. In http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/educacao/article/viewFile/3215/2677
Lopes, J. (1996) Vygotsky: O Teórico Social da Inteligência. Revista Nova Escola. São Paulo: Fundação Victor Civita, n.º 99, 33-38.
Nogueira Fino, C. (2001) Vygotsky e a zona de desenvolvimento proximal (ZDP): três implicações pedagógicas. Revista Portuguesa de Educação, 14, n.º 002.
Pinheiro, R. (2007) “Um olhar do brinquedo numa perspectiva vygotskyana” Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Consultado em Abril 2011 em http://www.abpp.com.br/artigos/73.htm

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