O papel do outro social no desenvolvimento da criança defendido por Vygotsky, entendendo-se aqui que a aprendizagem com o auxílio de outros mais experientes é mais produtiva que a aprendizagem individual, assenta na perfeição na figura do tutor.
Segundo Vygotsky a mediação leva à formação de novas relações interfuncionais (entre as funções psíquicas), na medida em que a consciência “tem carácter sistémico e dinâmico”. Acredita ainda que o desenvolvimento das estruturas psíquicas mediadas conduz ao surgimento de novos nexos entre as funções psíquicas isoladas conduzindo “à reestruturação das próprias funções, elevando-as a níveis cada vez mais qualitativos e superiores de desenvolvimento”. (Girotto & Lima, 2009)
A noção de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), a diferença entre o nível de desenvolvimento real (NDR), o que a criança é capaz de fazer sozinha, e o nível de desenvolvimento potencial (NDP), o que a criança é capaz de fazer sob a orientação de outro mais capaz, tem particular interesse na construção do plano de intervenção do professor tutor. Segundo Nogueira Fino (2001) “um aspecto particularmente importante da teoria de Vygotsky é a ideia da existência de uma área potencial de desenvolvimento cognitivo”, a fomentar por intermédio “da resolução de problemas sob orientação de adultos ou em colaboração com pares mais capazes”.
Vygotsky defendia que “o processo de desenvolvimento não coincide com o processo de aprendizagem”, que na assintonia entre estes dois processos reside a ZDP, ou seja, está o potencial da criança. Argumentava ainda que “a instrução só é boa quando faz prosseguir o desenvolvimento, isto é, quando desperta e põe em marcha funções que estão no processo de maturação ou na ZDP”. (Nogueira Fino, 2001)
Nogueira Fino (2001) reflecte sobre três implicações pedagógicas que podemos associar à noção de ZDP:
1.ª “Janela de aprendizagem” - segundo o autor “a ideia da ZDP de Vygotsky sugere a existência de uma “janela de aprendizagem” em cada momento do desenvolvimento cognitivo do aprendiz”, que comete para a necessidade de garantir a cada criança ou individuo “um leque de actividades e de conteúdos para que eles possam personalizar a sua aprendizagem” considerando o seu NDP e superando ou acrescentando o seu NDR. Assim, não é “a instrução propriamente dita, mas a assistência tendo presente o conceito de interacção social de Vygotsky, o que permite ao aprendiz actuar no limite do seu potencial” e subsequentemente assumir o controlo metacognitivo;
2.ª “O tutor como agente metacognitivo” – considerando que o conceito metacognição envolve “conhecimento e habilidades cognitivas interiorizadas” e os “valores interiorizados que lhes estão associados”, cabe ao tutor “monitorizar e dirigir” a actividade e guiar o aprendiz na tomada de consciência sobre o próprio conhecimento ora construído;
3.ª “A importância dos pares como mediadores da aprendizagem” – aqui abre-se caminho para “a mediação da aprendizagem por pares mais capazes” podendo estes incorporar a bolsa de tutores de uma organização escolar. Estudos sobre relações desta natureza apontam para “progressos no desenvolvimento cognitivo e social de ambos os intervenientes”.
Para terminar, parece ser congruente afirmar-se que a qualidade da interacção, entre tutor e aprendiz (criança, adolescente, jovem) é determinante para que aconteça aprendizagem e é factor potencial do desenvolvimento cognitivo deste.
Nogueira Fino, C. (2001) Vygotsky e a zona de desenvolvimento proximal (ZDP): três implicações pedagógicas. Revista Portuguesa de Educação, 14, n.º 002.
Girotto, C. & Lima, E. (2009) Acções Interdisciplinares em Salas de EJA: os projectos de trabalho à luz do enfoque histórico-cultural. EDUCAÇÃO: Teoria e Prática, v. 19, n.33. In http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/educacao/article/viewFile/3215/2677